segunda-feira, 16 de junho de 2008

Capítulo 14 - "Nunca gostei de pedágios mesmo"


É interessante viajar pela estrada no meio de uma desgraça como a que acontecia naqueles tempos, tava todo mundo (quase) morto e quem não estava eram completos desesperados, como nós. Outra coisa engraçada foi não se preocupar com nada nas estradas.

Nenhuma placa de "fiscalização eletrônica: pardais" faria-nos pizar no freio. Nada nos impediria naquelas alturas, apenas... gasolina.

- Porcaria. Daqui a pouco caímos na reserva. - Disse Lucas, preocupado com combustivel.
- Tem um posto em alguns quilometros, depois de um pedágio, eu acho... - Disse Mauro, que parecia conhecer a estrada. - É só a gente... invadir e abastecer. Quanto ainda tem aí?
- Pouco, muito pouco. - Disse Lucas, enquanto Mauro observou por cima do ombro dele.
- Ok, admito. Não vamos chegar.

O dia já ia surgindo. O sol surgia à nossa esquerda, entre algumas arvores. E a nossa frente, no horizonte, surgia também o pedágio: irritantemente vazio. Irritantemente caro. Cinco reais e trinta centavos para o nosso furgão.

Haviam três ou quatro carros jogados fora da estrada. Mais uns dois ou três enfileirados e apenas um dos "box" do pedágio estava vazio. Entramos nele.

- Tem uma mangueira aí? A gente podia roubar gasolina. - Eu disse, olhando para os carros envolta e para o interior do furgão. - Mangueira e alguma coisa pra guardar a gasolina... - Avistei uma mangueira no canto do furgão antes mesmo que alguém me dissesse que ela existia, e duas garrafas pet de coca cola com um restinho ao lado da cesta de comida. Peguei os três itens e chamei Isabelle com a cabeça para vir comigo.

Todos estavam parados, no furgão, assistindo irmos devagar até um dos carros, cuidadosamente, o mais próximo. Ele tinha até a chame no volante e a porta aberta. Felipe nos observava, com o rifle em punhos.

- A gente podia até se dividir, sei lá... Alguém aí quer revistar os carros? - Disse Isabelle. Logo quando ela terminou de dizer Mohammed saiu do furgão, indo até nós.
- Deixa que eu vou dar uma olhada nos porta-malas. - Disse ele, tirando a chave do carro das minhas mãos depois que eu já havia abrido a chave da gasolina e abrindo o porta-malas.

Isabelle esvaziou as duas pets, derramando a coca-cola sem gás e nojenta no chão, suguei a mangueira e deixei a gasolina derramando dentro da garrafa, Mohammed dissecava as bagagens daquele Gol cinza.

Jogou para o chão, eram três malas. Uma grande, vermelha. Outra grande, mas não estufada, e cinza. E uma ultima, pequena, fofinha e rosada. Parecia pertencer de uma família: mulher, marido e filha.

Abriu o ziper da mala cinza, jogou para fora dela apenas roupas. Uma caixinha com alguns remédios, deixou ela do outro lado. Em cima da caixa de remédio jogou alguns casacos que haviam dentro da mala.

Abriu o ziper da mala vermelha, algumas roupas superficiais deixavam claro que aquilo era de uma mulher. Até uma caixa com maquiagens havia.
- Alguém vai querer isso daqui? - Disse Mohammed, rindo, levantando a caixa no alto. Catarina disse que queria, saindo do furgão. Isabelle, pegou a caixa e jogou para ela.
Mais alguns casacos pesados, Mohammed também os separou.
- E essa saia também. - Disse Catarina, rindo e pegando uma das saias que Mohammed havia jogado longe.
- Isso é roubo. - Disse o padre, assistindo tudo de dentro do furgão. - Vocês estão furtando. - Todos o fitaram firme com os olhos.

Ninguém mais naquele furgão tinha um pouco de instindo humanitário, com exceção do padre, que sempre teve demais.

- Ah, padre, se tu quiser a gente encontra uma criança morta por aí pra você praticar sua pedofilia em paz, mas deixa a gente quieto, ok? - Eu disse, já me irritando com ele, pegando as duas pets cheias e seguindo em direção ao furgão.

- Ei. - disse Lucas, me encarando - menos, né! - ele completou, antes de me dar a chave para abrir o tanque.

Enchi os dois, enquanto Mohammed fechava o porta-malas e guardava as coisas escolhidas.
- Tem um caminhão ali, será que tem comida? - Disse Felipe, observando de cima do furgão.
- Está trancado. - Disse Mohammed, que já observava o caminhão. - Precisamos de ma... - um barulho forte de vidro trincando junto com uma porrada fez os pelos de todos arrepiarem - Puta que pariu. - Mohammed puxou a pistola do bolso e deu um passo pra trás, assim como Felipe, ficaram mirando para os lados procurando.

- AAAAAAAAAAAAAHRG! HAAAAAAGH! - Grunhia e gritava um zumbi que havia conseguido rachar o vidro da cabine do cobrador do pedágio, ele socava o vidro com raiva, mas mesmo assim ainda era fraco. Logo que todos havistaram, principalmente Felipe que já o tinha na mira, ele foi executado. O som do tiro cortou as planícies, ecoando.

- Merda. - Felipe recarregou a arma. - Nunca gostei de pedágios mesmo.

- Mh... Uuumh... - mais gemidos assustaram a todos, porém eles não vinham aparentemente de lugar nenhum, dessa vez junto de um barulho metálico, que indicava que ele estava batendo em cima de algum carro. Mohammed apontava a arma para os carros longe, quando apontou pra cima e deu a volta. - AAAUGHT!

Um zumbi em cima do caminhão, babando sangue e deixando um rastro que caia do teto, rolou caindo por cima de Mohammed. Ele parecia lerdo demais, surrado demais, Mohammed lutou, e jogou ele para o lado. Felipe pensou rápido, mirou rápido, mas errou o tiro, Lucas já sacava a arma.

Mohammed bateu na criatura duas vezes com o ferro da arma antes de segurá-la bem na frente da sua boca aberta que grunhia, enfiou dois tiros no céu-da-boca daquele zumbi, que parou. Deixando apenas a nossa respiração pesada no ar.

- Vou voltar a pegar gasolina... - eu disse, partindo novamente.

Os próximos quinze minutos foram silenciosamente cuidadosos. Felipe com a escopeta apontava para todos os lados, revistando todos os carros e volta e meia me dizia quais estavam abertos e tinham a chave dentro. Mauro também fora do furgão, com sua arma em punhos revistava o "estacionamento" fora de ordem, assim como Lucas e Mohammed. Isabelle me seguia, me ajudando com as garrafas, assistindo tudo de longe e cuidando o silêncio. Catarina ficava de pé, ao lado da entrada do furgão. O padre... bem, o padre era inútil agora, como todos os padres sempre foram na história da humanidade e como ele continuaria sendo.

- Pé na estrada. Vamos ter que arrebentar essa... coisa elevadiça do pedágio. - Eu disse, terminando de encher o que precisariamos do tanque com as garrafas, e observando a estrada à frente. Enquanto todos entravam denovo no furgão.

- Cadê a Catarina? - Disse Isabelle, olhando para os lados.

A luz vermelha do pedágio apagou. Uma luz verde ascendeu. A peça que nos impedia de prosseguir sem destruí-la subiu e todos os olhos voltaram-se para a cabine do pedágio. Catarina havia apertado um botãozinho entre alguns vários que abriu para nós, ela olhou de volta e sorriu. Entramos todos denovo no furgão.

A porta do motorista de um carro ao nosso lado e um pouco à frente foi empurrada pelo lado de dentro, abrindo, um zumbi rolou para fora do carro e se arrastou até ficar na frente do nosso carro. Era tarde demais para parar. Atropelamos ele e, pisando fundo, Lucas nos levou para longe.

Tanto faz. Ele ergueu a mãozinha morta dele e começou a rolar para o lado enquanto o carro se distanciava. Parecia até tentar encontrar uma posição melhor para... esperar carne.